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SUPERVIVENCIA DELTA

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Psicologia na sobrevivência

O item principal da sobrevivência é a psicologia

Por: Luiz Carlos IzzoInstructor de la escuela de supervivencia Via Radical Brasil (VRB), miembro de la CONFESUR.

Quando menos espera você pode se ver numa situação de emergência e todo o seu conhecimento e experiência podem ser insuficientes para garantir seu bem mais precioso: a sua vida.

Pegando carona na moda atual, em um lindo final de semana de sol, você decide acompanhar um grupo de aventureiros numa escalada, visita a uma cachoeira ou mesmo uma simples caminhada na mata. Porém, conforme a progressão dos passos você acaba ficando para trás e, em uma das muitas bifurcações e algumas trilhas produzidas naturalmente por enxurradas, você acaba perdendo a direção correta, não consegue se localizar e se vê em uma situação de pânico. “Paro ou continuo? Que direção eu sigo?  Como me orientar?”

Por mais que você tenha assistido os diversos programas e séries de televisão, onde são focadas temáticas da sobrevivência, com especialistas demonstrando técnicas para sobreviver em situações de emergência, seu destino já pode ter sido traçado. Quando o assunto é sobrevivência, não basta ser telespectador ou coadjuvante, você precisa ser protagonista e pragmático, ou seja, entender que nada vai adiantar tudo aquilo que você assistiu de camarote, no caloroso e confortável lar, sentado no sofá de sua sala com um copo de suco e um saco de pipoca nas mãos. As séries televisivas, em sua grande maioria extremamente sensacionalistas, jamais vão certificar ou capacitar as pessoas a sobreviverem em casos emergenciais. Neste caso, a preocupação principal da programação é a audiência, prender o público com cenários incríveis, não se importando nem um pouco em levar uma informação precisa e de forma mais adequada aos telespectadores sobre como se portar em uma real situação de emergência.

Pois bem, até aqui, você pode ter achado tudo isso uma grande bobagem, principalmente porque você imagina que não precisará nunca de conhecimentos de sobrevivência, já que não é trilheiro, montanhista e muito menos gosta caminhar pela mata. É exatamente aí que você é traído pelo destino e se engana completamente. Estas situações não surgem exclusivamente quando você vai se aventurar e pode te surpreender em um momento inesperado, como um passeio por áreas despovoadas, um trágico acidente de trânsito que te prenda ao veículo em área remota e que você seja condicionado a permanecer sem socorro durante horas ou até mesmo por dias, situações que não devemos subestimar ou afirmar que jamais vão acontecer. Outras cenas não podem ser completamente descartadas, como desastres naturais e até mesmo a queda de aeronave, que quando menos se espera pode te colocar em um cenário de sobrevivência real. 

“Okay, entendi que aprender técnicas de sobrevivência é fundamental para a minha vida.” Se você chegou a esta conclusão, agora, precisa ter o discernimento para buscar e distinguir o bom profissional dos picaretas aventureiros que se apresentam como instrutores desta técnica. Hoje, a maioria esmagadora dos profissionais da sobrevivência se baseia em dois grandes eixos, que são o conhecimento e o equipamento, porém, quase todos se esquecem de um terceiro que, em minha humilde opinião, é o principal dos fatores: o psicológico.

Acredito que pouco vai adiantar você estar munido de equipamentos corretos, de boa qualidade, e ter o conhecimento adequado para enfrentar uma situação de emergência se não tiver psicologicamente preparado. E esse conhecimento você só adquire na prática, vivenciando uma situação real de sobrevivência, e jamais em salas de aula, vídeos do Youtube, livros do segmento e muito menos nos programas televisivos assistidos, por mais fã que você seja do seriado. É muito comum vermos exemplos claros em que aventureiros perdidos são resgatados de helicóptero por forças de segurança e, em alguns casos, acabam morrendo por conta de ferimentos causados por queda, acidentes com animais peçonhentos e de hipotermia. Um fato muito curioso é que existem relatos de pessoas que, com pouquíssimas roupas, acabaram sobrevivendo por muitos dias, enquanto que em outras situações pessoas equipadas e muitas vezes até conhecedoras de técnicas de sobrevivência acabaram sucumbindo frente a força da natureza. 

Mas, então, o que explica essa diferença entre sobreviver e morrer? A resposta está em nosso cérebro, que na atualidade não é o mesmo dos primórdios da humanidade, quando os primatas não tinham em mãos a praticidade e comodidade ofertadas pelas invenções tecnológicas e se viam na obrigação de desenvolverem técnicas para se manterem vivos. Hoje, fazemos fogo em um estalar de dedos, porém, há milhares de anos o homem se fazia valer de técnicas primitivas, entre elas o atrito, a fricção e o bater pedras com pedras. Na sobrevivência você precisa reprogramar seu cérebro para, assim como um primata, agir diante as mais diversas exigências e aspectos psicológicos, digladiando com as intempéries, com a negatividade, com o medo e com o pânico.   

A principal estratégia para a sobrevivência é colocar em prática um método conhecido por “STOP”, (no inglês Sit, Think, Observe and Plan), ou seja, sente-se, pense, observe e planeje.

O primeiro passo é sentar, respirar fundo e fazer uma sinapse entre a situação problemática e seu cérebro. Utilize-se da premissa e faça uma abordagem geral da situação. Já com os neurônios aparelhados, a ordem agora é observar e atentar-se quanto a tudo que esteja a seu redor. Reconheça o ambiente em que foi inserido, os riscos, os perigos e também as oportunidades de abrigo, água, fogo e comida, que são os quatro elementos fundamentais para a sobrevivência. Observe também a melhor localização para o seu estacionamento, proteja e sinalize-o de forma a facilitar a sua identificação e futuras buscas.

Importante também avaliar, escolher e recolher os materiais que possam vir a ser úteis. Só nestes três primeiros métodos, quando o cérebro é inserido ao ambiente remoto, já fará o sobrevivente se sentir mais confiante e seguro, além de eliminar a ansiedade e também ocupar o tempo que poderia estar sendo utilizado com negatividades.  

Finalizados três primeiros métodos você parte para o último deles, que é o planejamento de suas ações. O que você vai fazer? Como vai fazer? Quando e em que ordem de prioridade vai fazer, atentando sempre à sua realidade, e também como você poderá ser encontrado e salvo o mais rápido possível. Importante é sempre pensar positivo, afinal, você já eliminou o pânico de sua lista e com determinação também conseguirá vencer outros obstáculos.

Outro ponto importante que contribui com a sua sobrevida é alimentar a autoconfiança. Dê passos seguros, resolva todos os problemas que porventura venham a surgir e arme-se do escudo contra a ausência deste estado psicológico, caracterizado pela intenção de aceitar a vulnerabilidade e que, incondicionalmente, faz aflorar a ansiedade.

Tome o norte de suas ações e olhe pelo lado positivo: a ansiedade também atua como um alarme natural, premissa do ser humano. Tire proveito de tudo isso e não permita que saia do controle e, consequentemente, contribua com esse sentimento negativo que nos derruba física e psicologicamente. 

E se mesmo depois de tudo isso você esteja questionando o fato de nunca ter vivenciado uma situação de risco, da mesma forma, pense positivo, isso vai contribuir com a sua sobrevivência. Por fim, mesmo após a devida aplicação do método STOP, não se acomode jamais. Busque melhorar sua área de estacionamento com uma boa sinalização, fortaleça o abrigo para resistir a tempos ruins, atente-se para a segurança contra animais ferozes e com o mais importante de tudo, com a plena manutenção de sua subsistência. Progrida, cresça e muito além de sobreviver, prospere.  É resolvendo pequenos problemas que ganhamos confiança para desafios maiores.